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Partimos do conto “O Horla”, de Guy de Maupassant, para criar um espectáculo onde o teatro se cruza com a dança, revisitamos o conceito de Desejo para a cruzar com a ideia da verdade, debatida ao longo de séculos por diferentes pensadores, e misturamo-la com a procura dos corpos.
Como é que o intérprete se contamina pela procura da personagem? De que forma pode ele resistir à espiral que o transporta para um vórtice de subjectividade em que os significantes se perdem dos significados, em que o eu se multiplica em muitos outros?
Como é que isso se relaciona com a história do malogrado protagonista do Horla, um conta fantástico, escrito ele também por um autor amaldiçoado pela doença mental numa época em que a ciência dava os primeiros passos na descoberta do inconsciente?
Estudos sobre o Desejo | um tríptico
“Estudos sobre o desejo” é um conjunto de espetáculos que abordam um conceito que é fulcral na criação artística – o do desejo enquanto força motriz de qualquer ato consciente ou inconsciente de criação.
Após a visitação ao excêntrico Barão de Branquinho da Fonseca, Miguel Maia leva em 2022 à cena o segundo volume deste tríptico com base no conto “O Horla”, de Guy de Maupassant, publicado originalmente em 1886, com uma segunda versão editada no ano seguinte.
O Horla é um conto que, pelo seu enquadramento histórico e artístico (positivismo final século XIX, surgimento das ciências do psiquismo, primeiros estudos de Freud, sessões públicas de hipnotismo do Professor Charcot), e pelo seu conteúdo – uma história ao estilo romântico e gótico sobre um homem assombrado por um espectro que o faz enlouquecer – se predispõe a uma leitura que procure explorar a significação simbólica e a reescrita dramática que sirva o propósito de estudar o conceito de desejo, subjacente ao tríptico.
Sobre o espectáculo
Usaremos como base o conto “O Horla”, de Guy de Maupassant, publicado numa primeira versão em 1886, conta a história de um homem abastado, que vivia nas margens do Sena, em Rouen, a noroeste de Paris e que, a partir do dia em que um barco com pavilhão brasileiro passou frente a sua casa, começou a ter estranhos sintomas que o lançaram num turbilhão de acontecimentos perturbador.
O que de início são noites mal dormidas, rapidamente se transforma em fraqueza, angústia e uma estranha sensação de estar a ser observado.
Durante a noite alguém, ou alguma coisa, o visita, senta-se no seu peito, bebe a sua água, e consulta os seus livros.
O seu humor decai rapidamente e, para confirmar a sua suspeita de que uma presença o assombra, leva a cabo uma série de experiências, constatando que este estranho ser bebe leite para além da água, mas não tocando em nada de sólido.
O que de início começa por ser uma sensação de estranheza, rapidamente se apodera da sua mente, colocando em causa as suas certezas sobre si, sobre o seu corpo, os seus sentidos e o mundo que o rodeia.
Neste espectáculo agarramos neste sítio, neste não-lugar da dúvida absoluta para pôr em questão também a nossa forma de procurar a personagem, o seu (nosso) corpo, o seu (nosso) cenário. O desejo materializa-se nesta pulsão de busca, cada vez mais frenética, dum fantasma que talvez seja o nosso reflexo. Nestas investidas, cada vez mais fundas, o corpo deixa de responder às nossas ordens e procura ele próprio as saídas.
Através de uma composição cénica que se modifica e expande, e uma proposta audiovisual que continuamente nos desafia, somos o Horla num espaço industrial datado do princípio do séc. XX em Marvila.
Todos os caminhos continuam em aberto, quando, num palco, misturamos actores e desejo.
Ficha Artística/Técnica
Texto, Dramaturgia e Encenação | Miguel Maia,
a partir do conto O Horla, de Guy de Maupassant.
Interpretação e Apoio à Criação | Alice Medeiros, João Gaspar, Marta Rijo, Vitor Alves da Silva
Apoio à Criação | Inês Tarouca
Espaço Cénico e Figurinos | Sara Franqueira e Joana Saboeiro
Desenho de Luz | Manuel Abrantes
Sonoplastia e Música Original | Pedro Freixo
Operação de Luz | Janaina Gonçalves
Design | Cinara Pisco
Vídeo | Mário Jerónimo Negrão
Fotografia | Sónia Godinho
Assessoria de Imprensa | Levina Valentim
Direção de Cena | António Milheirão
Direção de Produção | Paula Fernandes
Assistente de Produção | Beatriz Sousa
Produção | Companhia Cepa Torta
Classificação etária | M12
AGRADECIMENTOS
ADÃO, EIRA, Junta de Freguesia de Marvila, OUT.RA, Primeiros Sintomas, Teatro Meridional, Terra Líquida Filmes, Maria Folha, João Diogo Lopes, Lúcia Faria, Manuela Albuquerque, Patrícia d'Almeida, Paula Freitas, Rita Folha, Teresa Folha.